terça-feira, 28 de agosto de 2012

O desafio da escolinha

Eu pensei que meu coração ia sair pela boca. Minhas pernas ficaram bambas e eu tremia feito vara verde enquanto cruzava a rua da escolinha da Khadija para alcançar a cafeteria onde eu passaria toda manhã do primeiro dia dela na escolinha.
Na verdade não posso dizer que esse foi exatamente o primeiro dia da Khadija na escola.
Houve uma experiência anterior mal sucedida.
Eu particularmente questiono a neurose que se instaurou hoje em dia de que temos que enviar a criança para a escola o mais cedo possível. Aliás, eu sou contra qualquer tipo de neurose ou patrulha ideológica em matéria de educação de filhos (exceto as que se referem a castigos físicos e abandono, daí pra mim não tem acordo).
Antigamente as pessoas olhavam com péssimos olhos quando uma criança de dois anos já estava na escola.
Que mãe desnaturada e sem coração! Não sabe que o bebê ainda necessita dela?!! Muitas mães sentiram na pele o preconceito contra as mulheres que por opção ou necessidade, trabalham fora.
Hoje em dia é o oposto. Se seu filho tem dois anos e ainda não está na escola já começam os comentários: Ainda não está na escola?! Como assim? Está atrasado! A criança precisa socializar e ser estimulada.
(Como se as únicas formas de socialização e estímulo infantil fossem a escola.)
aulinha de música
aulinha de culinária
A Khadija desde os seis meses de idade participa de vários playgroups. (Grupos de pessoas que se encontram para brincar com seus filhos com o intuito de os estimularem a interagir com outras crianças. 

A baby Dija desde essa idade participava de três playgroups: um de música e coordenação motora, um de artes e crafts que trabalhava com artesanato e culinária e outro só pra brincar mesmo, sem nenhuma pretensão pedagógica dirigida a não ser a socialização das crianças e das mães. Além disso, a Khadija tinha aula de natação e participava esporadicamente de um playgroup para crianças de línguas hispanas onde brincava comigo e com os amiguinhos de origem hispana.
com a mamanha no palco
minutos antes
da estréia de Carmen
aulinha de artes
Honestamente não me parece que isso seja falta de socialização.  Com um ano e meio a Khadija, já falava em inglês e português, sabia contar e diferenciar as cores. Além disso, sabia distinguir inúmeras músicas e adorava ouvir ópera, pedindo sempre para ouvir a música da mamãe (Carmina Burana) porque ela me viu cantando essa peça de Carl Orff na Ópera de Hanói. Aliás, com menos de um ano de idade ela já conseguia emitir sons imitando notas específicas. Durante o ensaio da opera Carmen ela começou a fazer sons junto com a musica ensaiada gerando comoção geral na mulherada que ensaiava!! RS
Estou dizendo tudo isso pra explicar porque eu sou contra a escolarização precoce (e muitas vezes sem escrúpulos). Veja bem: A maioria das mulheres necessita trabalhar e a escola ou creche são alternativas legitimas e mais do que justas para que essas pessoas sigam sua vida de maneira natural. No entanto, a sociedade consumista, imediatista, fast food e "inafetiva" em que vivemos tem ferado uma demanda educacional desnecessária. Hoje em dia muitas vezes as escolas tem sido usadas como deposito de crianças, as pessoas tem confundido os fatos de que ensinar é uma função da escola, ao passo que educar é da família.
Lamentavelmente em muitos desses playgroups dos quais eu participo com a bebê, muitas das crianças vão acompanhadas de suas babás.  São raras as mamães que se despem da vaidade, deixam o salto alto no armário, botam um chinelinho, uma roupa velha e vão lá se empanturrar de tinta, areia e glitter. As poucas que toparam viraram minhas amigas e ídolos.
Em minha opinião, nenhuma criança com menos de três anos precisa de fato de escola. Nessa fase, pra mim, a necessidade de colocar a criança na escola é muito mais do adulto: De trabalhar, de ter um tempo pra si próprio ou mesmo de repartir a responsabilidade de estimular o filho apropriadamente, (porque nessa faixa etária ninguém precisa de fato de um professor pra fazer isso). Uma boa mãe estimula seus filhos lendo, conversando, brincando e cantando com ele. Por outro lado uma mãe desatenciosa, não vai fazer isso mesmo. Nem com nem sem escola.
Eu me achava um pouco solitária nesse meu ponto de vista, até que pesquisando sobre o assunto, eu descobri que parte da comunidade acadêmica e cientifica fecha comigo: O autor e psicólogo infantil Steve Biddulph, por exemplo, afirma o seguinte: Bebês não foram feitos para ir à escola nem para serem cuidados em grupo. Eles crescem e aprendem melhor quando têm um ou dois adultos cheios de amor exclusivo. Minha pesquisa é clara nesse sentido: até os três anos de idade da criança, é a família que tem condições de interagir com ela para um bom desenvolvimento cerebral. Ou seja, com intensidade e sintonia. É assim que o bebê aprende a se aproximar e a criar empatia – e adquire o que chamamos mais tarde de “inteligência emocional”. A melhor hora de colocar a criança na escola é a partir dos três ou três anos e meio. O certo é começar com três manhãs por semana de jardim-de-infância, com atividades educativas. Isso é bem diferente de deixar a criança todos os dias numa creche de período integral. Estudos sobre estresse e níveis de cortisol no sangue mostraram que bebês na fase de aprender a andar sofrem o dobro de estresse quando são separados da mãe e inseridos numa creche. Foi constatado que por meses o nível de cortisol se mantém alto. Sabemos que cortisol elevado faz mal, porque atrasa o desenvolvimento do cérebro, atrapalha o sistema imune e até reduz o crescimento. Os estudos constataram que as crianças que aparentavam bem-estar, na verdade, permaneciam estressadas – elas aprenderam a esconder a emoção e a lidar com ela. É importante lembrar que, nessa fase, a idade e o preparo são cruciais. O que pode ser valioso e excitante para uma criança de cinco anos pode ser devastador e traumático para outra de um ano e meio. Desenvolvimento infantil é isso: a coisa certa na hora certa. http://mae-rn.blogspot.com/2012/07/escola-antes-dos-3-anos-e-um-erro.html
Como eu já disse antes há que se respeitar as necessidades socioeconômicas das famílias. Quem é que hoje em dia pode se dar ao luxo de parar de trabalhar para cuidar do seu bebê?
Por outro lado, O direito à maternidade e à paternidade deveria ser uma questão de justiça social. Uma reivindicação a ser levada a sério.
Na Suécia, por exemplo, o pai tem direito a licença paternidade de um ano. Isso com tudo garantido: Salário, benefícios e muito mais. Sei que a Suécia não é parâmetro para o resto do mundo real, mas nesse caso, sim, devia ser.
Então, como apesar de defender que as crianças não entrem tão cedo na escola, eu deixei minha filhinha querida ir pra aulinha com apenas um ano e meio de idade?
Bem, em fevereiro desse ano eu estava levando a Khadija pra passear quando ela começou a pular no meu colo e a apontar pra escolinha de educação infantil que fica bem embaixo do nosso prédio. Levei-a até lá e ela começou a pular feito uma pipoca pedindo pra ir na tal escolinha. Ela empurrava a porta da entrada (era domingo) e resmungava: qué entá! qué entá! Passou o fim de semana inteiro fazendo menção a tal escolinha (Sunshine kindergarten), dizendo que queria ir lá brincar e então eu deduzi que talvez fosse o momento de deixa-la ir pra escola.
Fiz um acordo de ir a aulinhas individuais, sem o compromisso inicial de matricula-la um mês inteiro para ter certeza de que era isso mesmo que ela queria.
Ainda bem!
Acordar cedo foi o fator desastroso inicial logo no primeiro dia de aula. Ela já desceu chorando e berrando de raiva. (não posso culpá-la. Estava frio e eu mesma gostaria de ter ficado até tarde na cama). No entanto quando ela viu a escolinha ficou mais animadinha.
A professora disse que eu podia entrar com ela no primeiro dia na sala e foi exatamente isso que eu fiz. Fiquei dentro da sala de aula, sentada num cantinho, sem interagir com ela, mas presente. Sempre que ela sentia insegurança, olhava pra mim e se tranquilizava. O problema é que a tal classinha não era internacional, era o que eles chamam de integrada, ou seja, a aula era ministrada em inglês, porém por uma professora local, uma vietnamita.
No início eu achei que isso seria irrelevante, mas graças a Deus eu fiquei na classe e paguei pra ver. No fim eu descobriria várias coisas das quais eu não gostaria.
A professora era bem didática, com uma boa formação e tudo, mas a afetividade era zero!
Vietnamita tem muita dificuldade em ser afetivo, e essa daí era uma vietnamita típica. A professora auxiliar então... afe! Eu tinha medo da cara dela. Nunca consegui descobrir se ela tinha dentes porque a pobre coitada era incapaz de sorrir.
Não quis colocar todo meu julgamento nesses primeiros momentos, mas não podia ignorar o que estava diante de mim. Aquilo não era definitivamente o que eu havia sonhado para a minha filha. Mas ela, na verdade parecia estar bem ali e eu tentei na medida do possível relaxar. Não queria transferir a minha má impressão pra ela, afinal os seres humanos são diferentes e ela parecia estar confortável até então. No entanto, um pouco antes de ir embora outro mau sinal:  uma coleguinha da Khadija começou a chorar e chamar pelo vovô. Faltava pouquinho pra terminar a hora da refeição e a professora falava pra pequena: Não há razão para choro. Se avô vira buscar você no fim do dia. Esse choro é absolutamente desnecessário, etc. etc. etc. Como a criança não parava de chorar a mulher repetiu toda a ladainha de novo: Fez todo um tratado sobre a “desnecessariedade” daquelas lágrimas já que ao fim do dia o vovô viria busca-la. E a criança que urrava de chorar, tentava conter o choro, entre goles de sopa, lágrimas, soluços e sacolejos.
Ninguém ofereceu conforto real à criança, pegou no colo ou falou num tom de voz mais amável. Nada! Meeeedo!
Fui com a Khadija no dia seguinte novamente e dessa vez me proibiram de ficar na sala de aula. Eu decidi então ficar na recepção. Elas não gostaram muito, mas eu não lhes dei outra opção e elas tiveram que me engolir. A Khadija chorou algumas vezes, mas ela corria até o corredor se acalmava ao me ver e voltava pra classinha. Houveram alguns episódios de choro, mas nada sério. No terceiro dia as coordenadoras tentaram me  convencer de que o choro era culpa minha. Que ela chorava e fazia manha porque eu estava lá e que se eu me ausentasse ela ficaria confiante em si mesma e nunca mais choraria.
Não preciso dizer que isso não faz o menor sentido pra mim né? A mulher chegou ao desplante de dizer que se eu a deixasse chorar por várias semanas sem conforta-la ela então desistiria de chorar.
Oi?! Quem foi a coordenadora pedagógica da Faculdade dela? A Super Nanny?
No terceiro dia de aula voltamos pra casa e ela estava bem borocoxô. Muuito. Eles tiveram que me ligar mais cedo para buscá-la porque ela tinha chorado muito e estava inconsolável. Para piorar ela pediu pra ver o melhor amiguinho dela, que ela ama de paixão e ao chegar à salinha dele de bracinhos abertos, e lagriminhas  nos olhos ele a enxotou e disse que ela estava invadindo a escola dele, que ele não a queria lá, e a empurrou para longe, gritando e falando coisas que a magoaram ainda mais.
Naquela noite ela vomitou em jatos por toda a casa. Febre de mais de 39 graus!
Virose! (e certamente algum componente somático)
Acontece que os asiáticos de classe dominante acham que podem pagar por tudo, e a escola da Khadija era repleta de coreanas ricas. Na opinião delas, uma vez que elas pagaram pela escola, essa teria a obrigação de ficar com os filhos delas, doentes ou não, e daí elas enviam a crianças enfermas para a escola (o que é uma tristeza para a criança, que precisa de colo e carinho extra, e um desastre do ponto de vista de saúde publica, já que espalham o vírus e num curto espaço de tempo há varias crianças infectadas.) O problema maior foi que a Khadija era a criança mais nova da escola e a virose então pra um bebê pequeno tornou-se GRAVE.
 Ela passou o fim de semana entre o leito de casa e o do hospital. A febre não cedia e ela emagreceu visivelmente em dois dias. Foi um susto e levamos uma bronca dos amigos pediatras do Brasil que disseram que não devíamos tê-la colocado na escola antes dos dois anos de idade por conta da baixa imunidade que ela ainda deveria ter. Eu nunca tinha visto minha filha tão caidinha e isso me assustou demais. Deixei-a em casa por mais uma semana com todo o carinho e cuidado, mas depois fiz uma ultima tentativa de leva-la na escola.
Fiquei no lobby do meu prédio que é encostado na recepção da escola porque a coordenadora não me aceitava mais dentro da escola. No entanto umas dez da manhã me telefonaram porque ela já estava chorando há um tempão e nada a fazia parar. Eles me falaram que ela estava bem até encontrar seu amiguinho no corredor (aquele que ela adora e considera seu melhor amiguinho) e que de novo ao correr para abraça-lo ele a rechaçou, foi grosso e começou a fazer um certo bullyng com ela. A coordenadora então me chamou pra conversar e confessou que ele vinha fazendo fazia isso frequentemente e que a Khadija ficava magoada de uma maneira tão grande que nenhum conforto ou brincadeira conseguiam reverter o choro e tristeza, exceto a chegada da mãe. Por outro lado tentaram me culpar de que ela chorava porque eu era muito afetuosa e que isso ia deixa-la mole e outras baboseiras asiáticas que se eu a criasse de maneira mais dura ela estaria mais resistente a esse tipo de acontecimento.
Foi a gota d’agua! Decidi de uma vez por todas, que por um milhão de motivos essa tinha sido a decisão errada e que ela não ia continuar indo pra escolinha nessa fase da vida (e para essa, muito menos!).
Meses se passaram e um dia a Khadija tornou a falar pra mim. Mamãe eu qué escolinha. Conversei com ela, expliquei que a mamãe não ia poder ficar com ela nas aulinhas e que ela não precisava ir, que podia ficar em casa, mas ela foi categórica, insistiu, passou dias tocando no assunto e eu cedi.
Agora com dois anos e dois meses fizemos a nossa segunda tentativa.
Khadija começou no Hanoi International Kindergarten com uma professora super jovem, meio bicho grilo. Gordinha, olhos claros, sorriso franco e um enorme piercing de estilo indiano no nariz. Com especialização em pré-escola e teatro, a Nadia conquistou meu coração. Fechamos o pacote de cinco vezes por semana, meio período apenas e lá fomos nós.
Eu pensei que meu coração ia sair pela boca. Minhas pernas ficaram bambas e eu tremia feito vara verde enquanto cruzava a rua da escolinha da Khadija para alcançar a cafeteria onde eu passaria toda a manhã do primeiro dia dela na escolinha.
Ela ficou chorando quando a deixei para trás. Meu ar faltou!
Eu e a Nadia fizemos um acordo para atenuar a despedida. As crianças são levadas na escola entre oito e 9 horas, quando ficam brincando no playground. As nove entram para a classinha.
Eu cheguei as oito e fiquei brincando com ela até as nove e dai deixei-a as nove aos cuidados da Nadia e da Ha. Como ela passou uma hora brincando comigo no próprio ambiente da escola, isso atenuaria a despedida. Dei tchau pra ela e fui pra cafeteria tomar o cappuccino mais amargo da minha vida. Graças a Deus, durante o tempo que fiquei lá a professora me enviou diversas mensagens sobre como ela estava se saindo. Ela havia chorado algumas vezes, mas pelas fotos pude ver que ela havia sorrido também, e brincado e se divertido. A Professora disse que apesar de ter seus momentos de querer a mãe ela havia participado de todas as atividades. Para compensar o stress eu e o papaya fomos almoçar com ela num restaurante que ela ama. Além dela adorar as comidinhas tem também um espaço criança onde ela pode brincar à vontade.
O segundo dia foi mais difícil. Ela chorou bem mais e não comeu, dizem que é normal porque agora a criança tem noção de que a mamãe vai sair e demorar um pouquinho para voltar, apesar do choro ela  veio bem, tranquila e carinhosa.
Na quarta-feira ela acordou chorando e implorou pra não ir pra escola. Gritava, chorava e se debatia para eu não vesti-la. Foi nesse momento que eu vacilei. Fiquei pensando em todas as recomendações que havia lido sobre não colocar na escola antes dos três aninhos. Senti-me uma monstra sem coração. Mas eu havia feito o propósito de tentar por pelo menos uma semana, então eu me forcei a ter um pouco de fé na Nadia. Longe delas eu chorei muito (aliás longe dela eu chorei a semana inteira). Antes de sairmos de casa ela me pediu para assistir a Era do Gelo e eu deixei. Liguei pro Fabio e falei de toda a falta de convicções que me invadia e ele disse que tudo bem se eu decidisse voltar atrás. Isso na verdade me deu coragem para seguir em frente. Se não desse certo ela podia voltar pra casa. Decidi esperar uma semana escolar para observar. (Paralelo a isso ficava lendo os relatos e vendo as fotos das primeiras semanas dos filhos das minhas amigas na escola. Eles posando felizes, dando tchauzinho e sorrindo. Uma das meninas ate ajudou a tia a recepcionar os novos alunos nas classes. Senti-me um completo fracasso!).
Bem pra minha surpresa, após dez minutos de Era do Gelo a Khadija já era outra criança. Eu cortei um dobrado para não deixa-la perceber das minhas angústias e se sempre me referia à escola como ao maravilhoso lugar onde tudo é divertido! Daí eu dei uma de mané e perguntei: E aí vamos à escolinha? Fiquei chocada quando ela foi buscar a própria roupinha e me deixou vesti-la sem reclamar. Ainda falou: falta a mochila, mamanha!
Fomos pra escola, sem nenhuma lágrima. Ela, no entanto não resistiu quando me viu partir e acabou chorando, mas eu fiquei de butuca do lado de fora e vi que o choro não durou tanto assim.
No fim do dia quando cheguei, ouvi uma menininha gritando feito louca. Chorando de dar dó! Eu praticamente invadi a salinha da professora numa cena super dramática: Calma meu amor! Mamãe está aqui! Mamãe está aqui! E ela veio rindo lá do fundo da sala com uma pizza na mão: Mamãe! Mamãe! RS E ainda completou: Mamãe, a Mia está chorando, faz alguma coisa! J
Foi daí que as coisas começaram a mudar. Sexta-feira ela foi sem reclamar e só chorou nos intervalos das atividades. Ela riu muito mais, brincou muito mais e começou a ter diversão de verdade.
No fim de semana fizemos de tudo pra vê-la feliz, todas as vontades, todos os carinhos! Beijamos, abraçamos, deixamos que soubesse que nada mudaria. E eu tenho certeza de que eala entendeu direitinho.
Eu passei toda as manhãs das aulas dela sentada na cafeteria em frente à escola. Foi cansativo especialmente no dia que teve black out no bairro e eu tive que ficar quatro horas tomando café num calor de 45 graus, sem ar condicionado ou internet para passar o tempo.
Não me arrependo de nada, e antes de tentar me convencer de que eu sou exagerada e estou mimando a criança, já aviso, não vai funcionar! Eu já namorei, trabalhei, dancei, fiz teatro, baguncei, fui à baladas e a retiros. Experimentei tudo da vida e tudo intensamente.
Agora eu sou mãe, e isso será intenso também. Não tenho arrependimento de nenhum momento que passo com ela. Não acho chato, não me sinto tolhida nem frustrada. Ser mãe tem sido a tarefa mais revolucionária da minha vida e Deus foi tão generoso comigo que estou podendo exerce-la em tempo integral.

Hoje, segunda-feira, fez uma semana que ela começou na sua nova aventura. Ela tirou os sapatinhos para entrar no parquinho e levantou os bracinhos para a Nadia levá-la pra classinha. Olhou pra mim e tentou ser forte, mas dai fez um biquinho, tremeu os lábios e soltou um gemidinho: Mamanhaaa, mas foi muito rápido e pela primeira vez não chorou nem um pouquinho na aula. Quando cheguei ela estava lá linda como sempre! Suja da cabeça aos pés e coberta de tinta colorida. Correu na minha direção com mil gargalhadas, mandou beijos pra Nadia e me abraçou. Falou: Vamos pra casa mamanha? Fez seu dede no taxi, cantarolou um macarrônico “eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou” e dormiu profundamente nos meus braços. Quer paz maior do que essa?

7 comentários:

  1. Eu naão sabiaaaaaaa que a senhora blogavaaaaaa!!!
    Que delícia ver seus relatos!!! Fiquei com vontade de voltar no tempo e curtir meus bebês assim... mas como não posso, vou curtir minha gatinha (de 24 anos) por 15 dias na nossa viagem de Gilmore Girls!
    Você está certíssima... e a Khadija vai ser feliz, não tenho dúvidas!
    Beijo, mamanha!!!

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  2. Querida, ri muito, me emocionei muito e palaudi mais ainda.
    Vc é uma mãezona de primeira e sorte da sua filha, ter uma pessoa tão presente e preocupada na vida dela - duas na verdade, não esqueçamos "papaya"...rssss.
    Em todos os momentos que vc citou, TODOS eles você agiu corretamente. Quem sou eu prá dizer isso, meu Deus? Mas pelo menos é o que o meu doutorado em maternindade me miz....rssss.
    Fico muito feliz MESMO, que vc tenha a cumplicidade da Nadia nesse procsso. Muitas vezes a gente "foca" na escola e esquece que a pessoa que mais vai conviver com a criança, não é a escola-prédio-de-cimento, é a professora - e ela tem que ter empatia.
    Infelizmente as viroses fazem parte do pacote e não é um "privilégio" só dessa escola, não. Aos poucos esses e outros desafios que virão, serão superados por todos, a seu tempo. O importante vocês têm: amor e sensibilidade para lidar com os problemas visando o bem da Khadija.
    Confie nos teus instintos e seguem em frente, que vc tá no caminho (que eu acho) certo.
    Felicidades!!

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  3. Ai, será que o comentário foi?? Oremos, porque era grande...rssss.

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  4. que delicia! que benção a internet! mesmo longe posso partilhar os seus momentos e da princesa... obrigada por postar isso... dividir com seus amigos sua rotina, suas angustias e alegria nos faz sentir mais perto. amo vcs!

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  5. A gente vive numa sociedade de escleroses múltiplas: quando o João nasceu eram mil recomendações, todas destoadas. Fiz o que achei que devia fazer. Com certeza errei e erro em algumas escolhas, mas sem dramas... Já ouvi "não pode oferecer mamadeira depois dos seis meses, tá louca?" e da boca da mesma pessoa, depois quando eu quis parar de amamentar e o João teve dificuldades monstruosas pra pegar a mamadeira assim "é, acho que depois dos seis meses tu devia ter dado mamadeira pra ele ir se acostumando..."

    Por isso a gente ouve, ouve... mas, sinceramente? Faço cara de paisagem e faço o que eu acho que eu tenho que fazer.

    A segunda experiência da minha futura nora na escolinha parece muito com a do João... ele entrou com um ano e meio quase cravado (por sinal, fez um ano que o João tá na escola dia 17 deste mês). No primeiro dia fiquei um tempinho com ele no pátio. Sabe uma coisa engraçada? A primeira professora dele olhou pra ele e acho que rolou uma simpatia com o bichinho... eu via diversas mães ali que estavam há meses aguardando seus e suas filhas se "adaptarem", mas comigo foi assim: no primeiro dia ela, com seu jeito lindo pernambucano meio cabra da peste, vira e diz - vai embora. Eu estava lá há 10 minutos, e eram o primeiro dia! "Ele tá ótimo, vai embora e volta uma hora mais cedo". E assim foi... claro que quando eu cheguei ele tava se acabando de chorar... naquela semana, quando chegava a hora de ir pegar o monstrinho ele tava sempre chorando... ainda teve quem me disse assim (e eu achei a maior graça) "ele chora de remorso, porque se divertiu a tarde toda e esqueceu da mamãe!".

    E, depois de uma semana, o monstrinho tava totalmente integrado. Ficava até o final sem problemas... ele teve uma sorte monstro, como ele mesmo. quando ele começou a estudar, começou também uma estagiária, aluna da escola, que é um anjo... o primeiro dia dela foi o dele e ela me contou outro dia... que a recomendação era: fica com ele, pega ele no colo (ele e outras crianças que tinham começando naquele período, claro). Mas até hoje essa "tia" é o xodózinho dele. A professora mudou, a estagiária mudou de turma, mas sempre arruma um tempo pra curtir ele. E ele, ela.

    O João começou na escola por um misto de coisas. Apesar de eu morar com a minha mãe, ninguém tinha tempo de cuidar de verdade dele, então ele ficava na frente da TV. Eu trabalhava, minha mãe tem meu irmão autista que exige atenção dela e ela tentava se desdobrar. Mas ele vai à tarde...

    isso significa que hoje, no período da manhã, ele assiste TV, brinca, dorme... fica meio abandonado e eu passo por outro momento que em breve talvez seja fácil ou difícil pra ti: tirar a fralda. O João começou arrancando a fralda pra ir na privada e quando tiramos a fralda, ele passou a fazer xixi nas calças e a pedir fralda. "É um momento de adaptação", diz a professora. Na realidade, ele precisava da minha atenção pra isso ser mais fácil e dar certo, mas como, se meu trabalho exige minha atenção?!

    Isso porque eu trabalho de casa, o agora popular "home office". Imagina se eu tivesse que ir pra SP todo dia e descer no final do dia?! Tem mães que fazem coisas que a gente nem imagina... e a´pontam o dedo, porque ela bota o bebê na creche - que muitas vezes não tem condições pra receber aquelas crianças. Mas vai ficar em casa cuidando dos filhos pra tu não ouvir assim: "não trabalha? Que absurdo...".

    Pois é...

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  6. lindo o seu texto e claro, eu consegui visualizar cada cena, principalmente vc invadindo desvairada a sala de aula das pobres criancinhas... :-)

    A khadija tem sorte de ter você como mãe dela.

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